Astrojildo Pereira: intelectual orgânico do proletariado brasileiro

Fundação Dinarco Reis

Astrojildo Pereira Duarte Silva foi, ao lado do amigo Octávio Brandão, um dos principais dirigentes do PCB na primeira fase de organização do Partido, tendo sido eleito Secretário-Geral em 1922 e reeleito nos II e III Congressos. Nascido em 8 de outubro de 1890, em Rio Bonito, interior do Estado do Rio de Janeiro, era filho de um médico proprietário rural e comerciante. Estudou no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, educandário de orientação jesuíta, de onde foi expulso. Morando com a família em Niterói, começou a trabalhar como gráfico e entrou em contato com o universo cultural do Rio de Janeiro. Na década de 1910, aproximou-se dos núcleos anarquistas. Em 1913, participou ativamente da organização do II Congresso Operário Brasileiro, que, dirigido então pelos grupos anarquistas, reestruturou a Confederação Operária Brasileira (COB).

Foi na imprensa operária que Astrojildo deu início à carreira de jornalista, atividade a que se dedicou durante a maior parte de sua vida. Em fins de 1918, participou de uma frustrada tentativa de levante anarquista, razão pela qual foi preso. No entanto, os ecos da Revolução Socialista de 1917 na Rússia já se faziam sentir entre os militantes do movimento operário no Brasil, e Astrojildo acabou por afastar-se do anarquismo. Proferiu palestras defendendo a União Soviética e o internacionalismo proletário e editou a revista Movimento Communista.

Após a fundação do PCB, fez sua primeira viagem à União Soviética (1924) e foi encarregado, em 1927, de estabelecer o primeiro contato do PCB com o líder do movimento tenentista Luiz Carlos Prestes, então exilado na Bolívia. No II Congresso do PCB, em maio de 1925, no Rio de Janeiro, foi aprovada a criação de um jornal com o propósito de divulgar as principais propostas e bandeiras dos comunistas junto à classe trabalhadora. Fundado por Astrogildo Pereira e Otávio Brandão Rego, com o auxílio de José Lago Molares e Laura Brandão, assim surgia A Classe Operária, que, numa época de intensa repressão política e censura exercida pelo governo de Arthur Bernardes, não se assumia abertamente como órgão oficial do PCB, sendo apresentado como um “jornal de trabalhadores, feito por trabalhadores, para trabalhadores”.

Astrojildo passou a fazer parte do Comitê Executivo da Internacional Comunista em 1928, mas, no início da década de 1930, a guinada “obreirista” no partido foi responsável pelo afastamento dos intelectuais, e Astrojildo seria substituído na Secretaria-Geral. Dedicou-se então às atividades culturais. Em 1944 publicou Interpretações, coletânea de estudos sobre literatura, história e política, incluindo seu ensaio “Machado de Assis, novelista do Segundo Reinado”, de 1942.

Jornalista, escritor, editor, crítico literário e leal militante comunista

Mesmo tendo sido expulso do Partido, Astrojildo se uniu às forças políticas que se mobilizaram contra o nazifascismo e pelo fim do Estado Novo. Foi um participante ativo e destacado do I Congresso Nacional de Escritores realizado no início de 1945, que desempenhou papel importante nas lutas pelas liberdades democráticas.

Com a legalização do PCB, Astrojildo voltou a militar nas fileiras partidárias, centrando suas ações no trabalho cultural e na redação de revistas ligadas ao PCB, passando a dirigir a revista Literatura, de cujo conselho editorial participavam intelectuais como Álvaro Moreyra, Aníbal Machado, Artur Ramos, Graciliano Ramos, Orígenes Lessa e Manuel Bandeira.

No IV Congresso do PCB, realizado na clandestinidade em novembro de 1954, Astrojildo foi escolhido para fazer o discurso de abertura do encontro, honraria prestada ao fundador do PCB. No V Congresso, em 1960, foi eleito membro efetivo do Comitê Central.

Astrojildo dirigiu várias revistas do PCB ou próximas ao Partido. Foi diretor e redator-chefe de Problemas da Paz e do Socialismo, dedicada aos temas do movimento comunista internacional. Em 1958, fundou e dirigiu Estudos Sociais, revista teórica vinculada ao PCB, que circulou até 1964. Colaborou nos jornais comunistas Imprensa Popular (1948-1958) e Novos Rumos (1958-1964).

No mesmo período produziu artigos e obras de crítica literária e sobre a história do PCB. Em 1959, publicou Machado de Assis, ensaios e apontamentos avulsos e, em 1962, Formação do PCB: 1922-1928, notas e documentos. Em 1963 lançou Crítica impura, autores e problemas. Nos últimos anos de vida pertenceu à Comissão Machado de Assis, encarregada pelo governo federal da preparação de edições críticas da obra machadiana. Em seus trabalhos usou diversos pseudônimos, como Tristão, Astper, Basílio Torresão, Aurelínio Corvo, Júlio Bartaline, Sá Pedreira etc.

Foi preso pelos agentes da ditadura em outubro de 1964, após seu nome e de outros militantes do PCB, membros do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISBE) e da imprensa comunista terem sido delatados aos militares. Na prisão, seus problemas cardíacos agravaram. Foi posto em liberdade, por força de um habeas-corpus em janeiro do ano seguinte, quando declarou à imprensa ser um “marxista convicto”, conclamando à luta pelas franquias democráticas. Morreu no Rio de Janeiro em 20 de novembro de 1965, sendo sepultado em Niterói.

Fontes:

Artigo de Anita Prestes – https://pcb.org.br/portal2/28771

Verbete do CPDOC: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/astrojildo-pereira-duarte-silva

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