Poesia Comunista Brasileira

Compilação de poemas de luta produzidos durante a 1ª Oficina de Leitura e Escrita de Poesias de Luta como parte das atividades de comemoração dos 100 anos do PCB (agosto/setembro/outubro de 2022)

 
Apresentação
 
“Me perdoe, poesia, por te fazer entender

que não és só feita de palavras.”

(Roque Dalton, poeta guerrilheiro de El Salvador)
 
Pela primeira vez se realiza uma oficina de leitura e escrita de poesia de luta a nível nacional para o complexo partidário do PCB. Esse movimento, além de ser uma atividade comemorativa dos 100 anos de Partidão, é importante por três motivos centrais: qualifica nossos militantes poetas, permitindo a formação e a troca teórica, prática e estética entre camaradas; traz à tona, aos olhos do partido, a arte combativa produzida por suas próprias fileiras; e nos permite conhecer nossos/as poetas lutadores/as, criando uma vinculação entre eles/as para futuras intervenções coletivas no campo da poesia de luta.
 

A oficina contou com 2 turmas com 30 inscritos em cada, com militantes de mais de 12 estados, sendo uma turma para os que gostariam de começar a escrever e outra para os que já escreviam. Ela foi pautada pela leitura e debate tanto de poemas de luta históricos (retirados da Antologia de Poesias de Luta da América Latina, fundamental resgate desenvolvido pela Trunca Edições), como de poemas produzidos pelos participantes a partir das provocações lançadas pelos mediadores. O resultado riquíssimo dessa oficina pode ser encontrado nesta compilação virtual, que conta com 26 poetas e mais de 70 poemas.

A oficina, que se realizou no formato virtual, contou com 6 encontros. No primeiro, debatemos a função da poesia, estabelecendo os pilares de nosso entendimento do papel da arte/cultura em nossa sociedade a partir do referencial marxiano, diferenciando a poesia da poesia de luta. Como primeira provocação de escrita, sugerimos a produção de um poema autobiográfico, em que se evidenciasse a luta coletiva e individual para que o/a poeta se tornasse, hoje, esse quem é, explorando as contradições de sua vida, seu chão histórico e individual de lutas, avanços, retrocessos, privilégios. Nos 3 encontros seguintes, exploramos os 3 tipos de poesia de luta: a de negação (que busca fazer a denúncia de uma violência ou ser o testemunho dela); a de questionamento (que se contrapõe ao que é tido como natural, ao mundo dado, promovendo a crítica e a reflexão); e a de afirmação (em que se busca afirmar os valores de um novo mundo, convocando os/as que estão na mesma trincheira para a luta coletiva).
 
As provocações de escrita giraram em torno desses mesmos tipos. E, por fim, em nossos 2 encontros finais, nos concentramos numa intervenção poética coletiva: a partir da escolha de uma pauta de luta em que estivéssemos inseridos (no caso, a luta pela ativação da UBS Santa Clara em Atibaia). Produzimos poemas coletivamente, materializados em diferentes mídias (zine, lambes, vídeopoema, áudiopoema, poema para redes) para impulsionar e fortalecer essa luta.
 
Acreditamos que essa iniciativa, de produção e intervenção coletiva entre poetas lutadores/as, é fundamental, não só pela ação direta da poesia na luta, como pela ressignificação do processo tão individualizado e isolado de produção da poesia, que aqui passou pelo crivo do coletivo, que avaliou e interferiu ativamente na produção dos poemas, tendo em vista o efeito que se esperava, o público que se buscava atingir, e nesse processo, vai se abandonando o fetiche do autorgêniopoético pelo coletivo atuante, sem, claro, deixar de lado as contribuições individuais.
 
Acreditamos que essa é uma experiência de vanguarda fundamental de ser replicada, desenvolvida, aprimorada, em que a poesia se faz mais concreta, ativa, coletiva, permitindo que os/as poetas aprendam na ação poética concreta e entre si. Seguimos com um grupo ativo para essa finalidade, quem se interessar, entre em contato conosco!

Por fim, agradecemos o apoio da Secretaria Nacional de Agitação e Propaganda, da Fran Rabelato, Jeferson Garcia e Daniel Garcia de Andrade por acreditarem e investirem nesta iniciativa. Agradecemos também os bravos e as bravas guerreiras que mantiveram um espaço cativo aberto na sua semana e seguiram na oficina apesar das tantas demandas e tarefas. Que muitas outras oficinas como essa se desenvolvam a partir desta experiência piloto e que possamos ampliar os núcleos de ação direta de poesia de luta intervindo nas pautas concretas de nosso território, fortalecendo e enraizando a Poesia Comunista Brasileira.

 

Jeff Vasques e Thiago Cervan outubro de 2022

(mediadores da Oficina de Leitura e Escrita de Poesia de Luta)

Link do poema: https://drive.google.com/drive/folders/1OXeOSDXg6-KRoyAZk1JRXPNl4SzhGAVo?usp=sharing