Lisboa: mais de cem mil contra o pacote laboral

AVANTE! – Órgão Oficial do Partido Comunista Português

Na Marcha Na­ci­onal contra o pa­cote la­boral, que no dia 8 reuniu em Lisboa mais de cem mil pes­soas, a CGTP-IN anun­ciou uma greve geral para 11 de De­zembro, ga­ran­tindo que a luta vai con­ti­nuar e in­ten­si­ficar-se, até que o Go­verno re­tire o seu di­ploma, de­sis­tindo das mais de cem al­te­ra­ções à le­gis­lação do tra­balho, e re­vogue as normas le­gais gra­vosas que pre­ju­dicam gra­ve­mente os tra­ba­lha­dores.

«O ataque é brutal, vamos à greve geral»

De todo o país, de trem ou de ônibus, em trans­portes pú­blicos ou pró­prios, mais de cem mil pes­soas – muitas delas, tra­ba­lha­dores e trabalhadoras em greve – res­pon­deram ao apelo da CGTP-IN (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional) e mos­traram, nas ruas de Lisboa, que «quanto maior for a ofen­siva, maior será a luta». A afir­mação foi feita por Tiago Oli­veira, pouco antes de anun­ciar a con­vo­cação de uma greve geral.

O Se­cre­tário-Geral da CGTP-IN in­ter­veio na Praça dos Res­tau­ra­dores, para onde con­fluiu esta marcha. Re­cordou as duas grandes ma­ni­fes­ta­ções, re­a­li­zadas em 20 de se­tembro, no Porto e em Lisboa, e a greve da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, em 24 de ou­tubro. Lem­brou também que a marcha foi an­te­ce­dida por cen­tenas de ple­ná­rias e que de­zenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores já subs­cre­veram o abaixo-as­si­nado para re­jeitar o pa­cote que ataca os direitos trabalhistas. Tiago Oli­veira as­se­gurou que esta ação geral nas em­presas e na rua «vai pros­se­guir, com a ampliação e in­ten­si­fi­cação da luta rei­vin­di­ca­tória pelos sa­lá­rios e di­reitos» e «com ní­veis mais ele­vados da luta con­ver­gente de todos os tra­ba­lha­dores e trabalhadoras».

Foi de­ci­dido re­a­lizar a greve geral no dia 11 de de­zembro «na base da uni­dade de ação dos tra­ba­lha­dores e trabalhadoras, a partir dos lo­cais de tra­balho», em con­ver­gência com «muitas estru­turas sin­di­cais», seja «com po­sição já to­mada ou em pro­cesso final de de­cisão», ex­plicou o di­ri­gente.

«O ataque é brutal, vamos à greve geral» foi a pa­lavra de ordem que saudou o anúncio da luta.

Dora Boi­eiro, em nome da In­ter­jovem, an­te­cedeu na tri­buna ao Se­cre­tário-Geral da CGTP-IN. Acusou Go­verno e pa­tro­nato de, com este pa­cote la­boral, que­rerem «a pre­ca­ri­e­dade le­ga­li­zada», para que «a ge­ração mais qua­li­fi­cada» es­teja «per­ma­nen­te­mente dis­po­nível». Mas, sendo um terço da força de tra­balho e mais de me­tade dos tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios, os jo­vens dizem «basta» a este ataque e vão con­ti­nuar a lutar, por «sa­lá­rios dignos agora, e não em 2030», porque «a nossa vida vale mais do que o lucro de qual­quer pa­trão».

 

Ra­zões de uni­dade e luta

Ao som de pa­la­vras de ordem – como «Não vamos de­sistir, o pa­cote é para cair», «O pa­cote la­boral é en­co­menda do pa­trão. Não tem nada que en­ganar: é para au­mentar a ex­plo­ração», «Que­remos paz, pão e o di­reito à ha­bi­tação» ou «Saúde, Edu­cação e Se­gu­rança So­cial são di­reito uni­versal» –, trans­por­tando faixas, ban­deiras e car­tazes, os ma­ni­fes­tantes co­me­çaram por se reunir, desde antes das 14h30, nas Amo­reiras (Ad­mi­nis­tração Pú­blica) e no Sal­danha (setor pri­vado e setor em­pre­sa­rial do Es­tado).

Na des­cida até a Praça Marquês de Pombal, cada um destes passos da Marcha foi, já por si, uma grande ma­ni­fes­tação, com duas faixas idên­ticas na di­an­teira, a mar­carem a luta comum: «Não ao pa­cote la­boral! Mais sa­lá­rios e di­reitos!».

Na Ave­nida da Li­ber­dade, se­guiram na frente a di­reção da CGTP-IN e um nu­me­roso grupo de ati­vistas da In­ter­jovem (no início, re­par­tidos pelas duas con­cen­tra­ções).

Após uns mi­lhares de tra­ba­lha­dores/as das in­dús­trias trans­for­ma­doras e am­bi­ente, or­ga­ni­zados/as nos sin­di­catos da FI­E­QUI­METAL, des­fi­laram muitos ou­tros mi­lhares de tra­ba­lha­dores/as da Ad­mi­nis­tração Local, mo­bi­li­zados pelo STAL.

A Ave­nida con­ti­nuou a en­cher, du­rante quase duas horas, en­trando in­ter­ca­la­da­mente grupos vindos das Amo­reiras e do Sal­danha.

Por ali des­fi­laram, numa ex­pressão forte de uni­dade: o pro­testo contra a re­du­zida atu­a­li­zação sa­la­rial im­posta na Ad­mi­nis­tração Pú­blica e a crí­tica aos dez cên­timos de aumento do sub­sídio de re­feição; a re­jeição ao «pa­cote do pa­trão» e do acordo co­letivo de tra­balho que o Go­verno apre­sentou aos en­fer­meiros; a exi­gência de au­mento dos sa­lá­rios e va­lo­ri­zação das car­reiras, e também de de­fesa dos ser­viços pú­blicos; a de­núncia dos mi­li­o­ná­rios lu­cros dos bancos e dos su­per­mer­cados, a con­trastar com sa­lá­rios e pen­sões de mi­séria.

Muitos iden­ti­fi­caram-se pelas pro­fis­sões, dos mi­neiros aos mo­to­ristas e bom­beiros, dos pro­fes­sores aos pro­fis­si­o­nais de se­gu­rança e mi­li­tares; ou­tros, por em­presas e setores, dis­tritos, concelhos…

No re­gresso, o em­penho de todos vai de­ter­minar, até o dia 11, «a cons­trução de uma grande de­mons­tração da força dos tra­ba­lha­dores e das trabalhadoras» e «um mo­mento maior do combate ao pa­cote la­boral, no com­bate a este rumo de de­gra­dação das con­di­ções de vida, no com­bate pelas so­lu­ções aos pro­blemas que en­fren­tamos todos os dias» – como disse Tiago Oli­veira, a pro­pó­sito da greve geral.

Fonte: https://avante.pt/pt/2711/emfoco/181567/Mais-de-cem-mil-em-Lisboa-firmes-contra-o-pacote-laboral.htm