Entrevista com Edmilson Costa

imagemPor Milton Pinheiro

Jornal O MOMENTO

O MOMENTO – Na condição de secretário-geral do PCB, como é analisado o quadro político nacional neste momento?

Edmilson Costa (EC) – Nós estamos diante da mais grave crise do último meio século. Uma crise econômica, social e política que se aprofundou com o governo Bolsonaro. Trata-se de um governo a serviço dos banqueiros, do capital monopolista e do agronegócio. Um governo que vem realizando uma guerra contra os trabalhadores, a juventude e o povo pobre, mediante um conjunto de contrarreformas, que visam regredir os direitos sociais dos trabalhadores ao período da República Velha, quando a questão social era caso de polícia. Além disso, é um governo inimigo da ciência e do meio ambiente, dos indígenas, quilombolas, além de realizar uma ofensiva permanente contra a juventude pobre e preta das periferias. Portanto, estamos diante de um inimigo violento e obscurantista, que só poderá ser derrotado pela luta de massas.

O MOMENTO – Que tipo de enfrentamento vocês têm pensado para agir na luta de classes?

EC – As forças de oposição ainda não reuniram força suficiente para derrotar esse governo e sua política de terra arrasada por uma série de problemas. Os partidos da conciliação de classes estão muito mais interessados nas eleições de 2022 do que efetivamente realizar um trabalho para colocar as massas nas ruas. Temem perder o controle do processo em função do enorme descontentamento latente que existe entre a população. Além disso, temos o problema da pandemia, que dificulta as grandes manifestações. No entanto, mesmo antes da pandemia esses partidos não desenvolviam uma política de derrotar o governo através da luta de massas. E a esquerda revolucionária ainda não acumulou força suficiente para ter um protagonismo na luta social. Mas essa situação pode mudar em função da crise econômica e da situação social do País, que é dramática. Penso que, em algum momento, os trabalhadores, a juventude o povo pobre compreenderão quem são seus inimigos e se colocarão em movimento para derrotá-los.

O MOMENTO – Quais as balizas do PCB para enfrentar a crise grave que se abate sobre o Brasil?

EC – Nós entendemos que esse governo só será derrotado pela luta de massas. Por isso, achamos que é fundamental estar presente em todas as lutas dos trabalhadores, tanto nas greves que ocorreram durante a pandemia, quanto nas manifestações populares. Nosso Partido e nossa juventude estiveram presentes em todas as lutas nas ruas que ocorrem no Brasil nos últimos tempos, evidentemente respeitando os protocolos de saúde. Entendemos que a pandemia não é uma boa desculpa para uma organização deixar de participar de manifestações. Foram exatamente as manifestações das torcidas organizadas, da juventude e dos trabalhadores, em plena pandemia, que expulsaram os fascistas das ruas. Além disso, se a população é obrigada a lutar de segunda a sábado pela sobrevivência nas ruas, tem todo o direito de ir no domingo protestar contra as péssimas condições de vida que o governo está impondo a todos. Acreditamos que a luta atual contra o governo Bolsonaro deve se processar mediante três tarefas fundamentais: primeiro, disputar o aqui e agora tanto nas redes sociais quanto nas ruas; segundo, trabalhar no sentido de um processo de reorganização de nossa classe, uma vez que as atuais organizações perderam a capacidade de mobilizar e organizar os trabalhadores. Terceiro, construir um programa estratégico para disputar com a burguesia e a conciliação de classe o momento pós-pandemia. Se tivermos condições de cumprir essas tarefas, teremos também condições de derrotar não só esse governo e sua política antipopular, mas também abrir perspectiva para as transformações sociais em nosso País

O MOMENTO – A luta de classes no Brasil passa pelo enfrentamento ao germe do neofascismo?

EC – Pessoalmente, Bolsonaro é um fascista e só não implantou um regime fascista no Brasil em função da resistência da população e de vários setores institucionais. Atualmente, ele está mais quieto em relação às suas pautas autoritárias, mas ele tem o DNA fascista e tão logo se sinta forte o suficiente voltará ao seu projeto original. Nesse sentido, as forças de esquerda devem realizar unidade de ação com todas as forças antifascistas, sempre procurando, no interior desse processo de lutas, unir e organizar os setores mais consequentes, aqueles que têm como objetivo realizar as transformações em nosso País. A derrota do fascismo não virá da luta dos setores liberais, que são vacilantes e apoiam essa política de terra arrasada, mas da luta de massas, pois só as massas em luta nos locais de trabalho, moradia e estudo e nas ruas têm capacidade de derrotar efetivamente o fascismo.

O MOMENTO – O que representa o governo Bolsonaro na política brasileira?

EC – Não podemos esquecer que governos tipo o de Bolsonaro não é uma particularidade tropical do Brasil. Estes governos estão inscritos na crise mundial do capitalismo. O capitalismo quando está em grave crise sistêmica, como agora e nos anos 20 do século passado, sempre apela para sua tropa de choque fascista. Não podemos esquecer que Mussolini e Hitler foram apoiados pela burguesia de seus países e por amplos setores da burguesia mundial. Agora novamente o grande capital está em crise profunda e novamente está se aliando aos governos mais reacionários e aos bandos fascistas em várias partes do mundo. O objetivo é claro: esses governos e bandos fascistas devem fazer o trabalho sujo de forma que as classes dominantes possam restabelecer as taxas de lucro, disciplinar os trabalhadores e impor governos que defendem cegamente seus interesses.

O MOMENTO – Como os comunistas pensam sua intervenção na luta de classes durante o processo eleitoral?

EC – As classes dominantes brasileiras vêm procurando cada vez mais restringir a participação dos partidos revolucionários nas eleições, mediante um conjunto de reformas e restrições, como a cláusula de barreira e o tempo de televisão. No entanto, mesmo com essas restrições, os comunistas devem participar das eleições, porque esse é um momento em que toda a população passa a discutir política. Portanto, ficar fora desse processo seria um erro grave e facilitaria o trabalho da burguesia. Mas nós participamos com uma campanha e com interesses completamente diferente dos partidos tradicionais. Nós procuramos nessas eleições dialogar com os trabalhadores e a juventude, mostrar quem são os verdadeiros inimigos do povo, levar às massas o nosso programa, de forma a politizar e conscientizar os setores mais avançados do povo na perspectiva de que só o poder popular e o socialismo podem resolver os problemas da população.

OMOMENTO – Qual o sentido da revolução brasileira neste momento histórico?

EC – A revolução brasileira, como todas as revoluções, é um fenômeno de massas. Não pode ser realizada por pequenos grupos heroicos ou por aqueles que pensam que basta que as organizações tenham boa direção que o problema está resolvido. Portanto, a revolução brasileira será realizada pelos milhões de trabalhadores, da juventude e do povo pobre em luta. Como a maioria da população e do proletariado vive nos grandes centros urbanos, entendemos que é exatamente nesses grandes centros onde pulsa mais efetivamente a luta de classes e também é onde se dará a luta principal entre os trabalhadores e a burguesia. Além disso, vivemos num país de capitalismo maduro, apesar de subordinado ao imperialismo. Aqui, as relações burguesas estão perfeitamente constituídas, as classes estão claramente definidas, o Estado e as instituições funcionam a serviço da burguesia. Portanto, o caráter da revolução brasileira é socialista. Ou seja, nossos aliados estão no campo proletário, que representa a grande maioria da população brasileira. Isso significa dizer que não faremos nenhuma aliança com setores burgueses. Esses setores, em todos os momentos de nossa história, sempre se perfilaram ao lado do imperialismo. Todos aqueles que se aliaram com a burguesia, imaginando que isso poderia contribuir para qualquer mudança, tiveram amarga experiência – ou foram derrotados ou descartados quando deixaram de ser funcionais

Entrevista d’O Momento – Edmilson Costa