Nelson Sargento, operário do samba
“…Abafa-se a voz do oprimido
Com a dor e o gemido
Não se pode desabafar
Trabalho feito por minha mão
Só encontrei exploração
Em todo lugar…”
(Samba do Operário – Nelson Sargento, Cartola e Alfredo Português)
Jornal O Poder Popular
Nelson Sargento, que nos deixou no dia 27 de maio, foi um dos grandes nomes e símbolos da cultura popular brasileira. Compositor e cantor, o mangueirense e vascaíno Nelson Sargento extrapolou o mundo das escolas de samba, sendo nacionalmente reconhecido como um dos grandes nomes da nossa música e da nossa cultura.
Baluarte do samba e da cultura popular, Nelson Sargento imortalizou a luta do samba contra sua descaracterização e sua instrumentalização a serviço dos interesses do mercado capitalista. Na contramão da hegemonia burguesa, sempre buscou representar os lamentos, as dores, as lutas, os sonhos e amores do povo pobre brasileiro. Foi autor de mais de 400 músicas.
Nelson nasceu Mattos e virou “Sargento” após breve passagem pelo Exército. No morro da Mangueira, onde passou a viver a partir dos 13 anos, aprendeu a tocar violão observando os músicos que tocavam nas rodas de samba organizadas por Alfredo Português, seu pai de criação, que integrou a Ala de Compositores da Escola.
Nelson Sargento foi um militante do samba, aprendeu com mestres e se igualou a eles. Conviveu desde cedo com sambistas do naipe de Geraldo Pereira, Padeirinho, Cartola, Carlos Cachaça e Nelson Cavaquinho. Começou a musicar as letras escritas pelo padrasto, mas seu nome somente será reconhecido aos 30 anos, quando a Estação Primeira de Mangueira foi campeã do Carnaval de 1955, com o samba enredo “As Quatro Estações do Ano”, também conhecida como “Cântico à Natureza”, de sua autoria, em parceria com Alfredo Português e Jamelão.
Durante muitos anos seguiu trabalhando como operário da construção civil e pintor de paredes. Por isso mesmo foi capaz de registrar em versos, de forma precisa, a exploração vivida pelo trabalhador brasileiro, como no “Samba do Operário” e em “Encanto da Paisagem”, onde fala da imponência e da beleza da natureza encontradas por quem vive no morro, sem deixar de apontar as mazelas provocadas pelo “desajuste social”.
Sensível às dores do povo trabalhador, chegou a ser próximo do Partido Comunista Brasileiro. No início da década de 1960 participou do movimento que, desencadeado pelo Centro Popular de Cultura, vinculado à União Nacional dos Estudantes (UNE), fez com que a cultura popular e, em especial, samba do morro frequentasse os ambientes universitários e os palcos em teatros da zona sul carioca, contribuindo para a geração de eventos como o Show Opinião, que se tornou um marco da resistência cultural contra a ditadura imposta em 1964.
Nelson Sargento é mais uma vítima da covid 19, somando-se às quase 500 mil mortes em uma tragédia promovida pelo governo genocida de Bolsonaro, Mourão e Guedes, crise sanitária que se agrega à crise estrutural do capitalismo, responsável pelos ataques à classe trabalhadora para manter seus lucros.
“O samba agoniza, mas não morre”. Os versos de Nelson continuarão eternos, assim como a resistência e a luta do nosso povo.
Homenagem do PCB a Nelson Sargento
Área de anexos
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