O Carnaval é parte da solução para a crise
Luís Fernandes*
Tenho lido alguns comentários de pessoas de direita e até mesmo simpatizantes do espectro amplo da “esquerda” que reforçam um discurso anti carnaval: uma festa da “alienação”, mobilização popular sem sentido, violenta e desordeira, expressão da paralisação econômica do país em crise. Não vou entrar no mérito da polarização social e política que tomou o carnaval carioca, mas apenas lembrar um pouco as raízes sociais e econômicas da crise no Rio de Janeiro, ou melhor, do desmonte da economia fluminense.
Um a cada seis desempregados no Brasil estão no Rio de Janeiro, que vive uma realidade de retração industrial, endividamento público do Estado, desnacionalização econômica e abertura da exploração do pré sal para conglomerados internacionais (norte americanos, franceses e portugueses) sem a participação da Petrobras. Além disso, a diminuição da intervenção estatal na dinâmica social e econômica faz emergir uma verdadeira crise civilizatória no Estado. Uma verdadeira (des)ordem pública. Caos na saúde, na educação (diminuição de vagas nas escolas, crise na UERJ, etc), falência das UPPs e aumento nas taxas de assassinato, enfim, cenário de uma verdadeira crise civilizatória, estimulada pelas políticas de austeridade e cenário perfeito para se criar um novo choque neoliberal no Estado: privatização das escolas públicas, crescimento de grupos privados de “segurança”, privatização de empresas públicas e até mesmo dos grandes blocos do carnaval carioca.
Esse ano foi visível o aumento de ambulantes e trabalhadores informais no carnaval. Nesse cenário caótico, o carnaval garantiu o pão, o remédio, além da diversão de muita gente. Carnaval, num cenário tão complicado como no Rio de Janeiro, é parte da solução.
Além de um dos maiores patrimônios culturais do povo brasileiro, pode vir a ser um importante instrumento de políticas públicas, com geração de emprego e renda para a população. O discurso de criticar a desordem do carnaval é parte da estratégia dos choques neoliberais. Em 2019, ainda mais depois das críticas e da polarização política predominantes neste ano, o carnaval será alvo (mais uma vez) de um novo choque de mercado na sua organização. A prefeitura reacionária já anunciou a proposta dos “mega blocos” ocorrem em locais “preparados” para recebê-los. E qual a proposta à esquerda em relação a isso? Temos que sair da mera negação dos problemas e voltarmos a debater as questões cotidianas com a devida profundidade.
*Membro do Comitê Central do PCB