ENTREVISTA COM IVAN PINHEIRO, SECRETÁRIO GERAL DO PCB

Ele esta no Recife para participar dos atos em homenagem aos 110 anos de nascimento do militante comunista Pernambucano Gregório Bezerra, morto em 1983 e que militou no na legenda. A trajetória política de Gregório é uma das referencias que o PCB quer apresentar para cativar novos filiados “de qualidade” e recuperar o terreno perdido.

“Gregório foi uma das figuras mais importantes da esquerda brasileira. Ele soube conjugar como ninguém a luta institucional com a luta direta dos trabalhadores”, reforçou Pinheiro. O PCB aproveitou a homenagem prestada ontem a Gregório, na Câmara de Vereadores de Recife, para entregar a medalha Dinarco Reis, uma condecoração do Partido ao único filho vivo de Gregório, Jurandir Bezerra, e a netos do militante. A comenda também será entregue a militantes de outros estados, como forma de valorizar comunistas de vários locais. Em 2010, serão outorgadas mais quatro medalhas Dinarco Reis – um militante do PCB morto em 1989, que atuou na Aliança Nacional Libertadora, em 1935, e lutou como voluntário na Guerra Civil Espanhola na década de 1930.

Segundo Ivan Pinheiro, entre os vários militantes que estão na mira do Comitê Central para terem suas trajetórias resgatadas estão a de Luiz Carlos Prestes e até a do ex-cronista esportivo e ex treinador de futebol, João Saldanha, ambos mortos em 1990. “É uma questão delicada. Alguns dos que homenageamos saíram do PCB (caso de Prestes). E nas famílias dos que morreram há polêmicas e resistências, idiossincrasias. Responsabilizam o PCB por um exílio, por uma morte, por não ter tido aquele militante tão pai quanto devia, tão avô quanto devia”, relatou.

Pré-Candidatura

Se em 2006 se aliou ao PSOL para apoiar a candidatura da ex senadora Heloisa Helena (AL) à presidência, este ano o Partidão vai de candidatura própria. O anúncio de Ivan Pinheiro como pré-candidato será em rede nacional no programa eleitoral gratuito da legenda, dia 25 de Março, na data do 88° aniversário da sigla.

Segundo Pinheiro, o PCB optou pela postulação própria por não ter conseguido costurar uma unidade com o PSOL e o PSTU na construção de uma “frente de esquerda”. Eles entraram em um debate mais preocupado no resultado eleitoral do que em criar essa frente (suprapartidária)”, reclamou.

O Secretário Geral do PCB admitiu que sua candidatura não é competitiva. Disse que ela tem como função ocupar espaços para divulgar propostas do Partido. “Vamos participar das eleições, expor nossas opiniões, desmistificar toda a satanização em torno do PCB”.

“A Política do PCB nos anos 80 foi equivocada”

“Advogado e bancário aposentado, Ivan Pinheiro, 64 anos, disputou a prefeitura do Rio de Janeiro em 1996 e de lá para cá vem se dedicando à reconstrução do PCB que segundo ele, terá um impulso maior a partir das eleições deste ano. Nesta entrevista, ele comenta erros históricos do PCB e como o partido trabalha sua reinserção social, depois de quase ter desaparecido do mapa político brasileiro.”

Jornal do Commercio: Como vocês estão trabalhando essa reconstrução do PCB pelo país? É através do movimento estudantil? Em que segmento da sociedade o PCB está se reinserindo?

Ivan Pinheiro: é exatamente por ai, vamos dar relevância ao movimento social. O movimento estudantil é muito importante para nós. Mas o (foco) é o sindical, sobretudo porque a centralidade do trabalho continua essencial para nós.

JC: Como está o PCB em termos de inserção nos movimentos sociais e sindicais?

Pinheiro: O PCB está se reconstruindo e se reinserindo nos movimentos sociais. Aos poucos, com consistência, sem inchaço. Temos recrutamento de qualidade. Não falamos mais em campanha de filiação. O ambiente sindical, que foi mais favorável a nós no passado, foi ocupado pelo PT, sobretudo. Atribuímos isso a uma política equivocada em toda a década de 1980 em que a maioria da direção do PCB – que em 1992 tentou acabar com ele (saindo do Partido e criando o PPS) – praticou no ambiente sindical uma política que chamamos de conciliação de classes. Essa direção foi contra participarmos da CUT, um erro grosseiro a pretexto de que aquilo poderia desestabilizar a transição democrática. Hoje estamos dando atenção especial a movimentos sindicais em áreas industriais. Temos um bom crescimento no sul e sudeste.

JC: e no nordeste?

Pinheiro: Pernambuco é um Estado referência. Estamos ainda fracos na Bahia; no Maranhão, temos um peso razoável, mas o Estado do Nordeste onde temos um peso maior no movimento sindical é no Ceará: estamos nas principais categorias lá, nos sindicatos de professores, trabalhadores das indústrias de calçados e da construção civil. Ao todo, estamos em 21 Estados.

JC: A sua pré candidatura a presidente está colocada. E como essa postulação está sendo construída no Partido?

Pinheiro: A idéia da candidatura própria foi tomada pelo Comitê Central do Partido no inicio do ano. Não era isso que queríamos. A esquerda socialista (PCB, PSTU e PSOL), em 2006, veio unida em torno da candidatura da (ex senadora) Heloisa Helena (PSOL). Mas nós tivemos muitos constrangimentos; a campanha não foi o que a gente esperava. Lutamos para que fosse um frente política permanente e não uma mera aliança como acabou acontecendo. Temos divergências e queremos mostrar nossa identidade.

JC: O senhor vem visitando vários Estados. É para estimular candidaturas locais do PCB?

Pinheiro: Exatamente. Não estamos fazendo eventos públicos em torno das eleições. A comemoração dos 110 anos de Gregório não é propriedade nossa; estamos participando. Estamos discutindo com os companheiros como a gente monta as campanhas estaduais. A nossa orientação é a seguinte: chapa própria no âmbito nacional; e nos Estados, chapa própria, mas não em todos. Pode ser alianças, preferencialmente com o PSOL e o PSTU, porque estão no campo da oposição de esquerda ao Governo Lula. Nós teremos quatro eleições no fim do ano nos Estados: Governador, Senador e Deputados Federais e Estaduais. Estamos recomendando que, no mínimo, participemos com candidaturas próprias em duas delas.

JC: O PCB vai privilegiar algumas delas?

Pinheiro: Sempre vamos valorizar o legislativo. Não temos qualquer ilusão de eleger um Governador comunista num país capitalista e implantar o socialismo naquele lugar. O nosso problema é ter voz na televisão e. onde a gente puder, eleger deputados. É muito difícil, mas vamos ver.

JC: O Partido já fez um mapeamento para ver onde tem mais chance de eleger um deputado?

Pinheiro: Esse mapa está inconcluso. É uma coisa que a gente não domina bem, a matemática eleitoral.